Boas Festas

Feliz Natal e Próspero Ano Novo!

Pois é, faz um tempo que eu não enviava um destes. Para quem notou que eu não enviei cartões ano passado, nem cheguei a fazer nada no meu aniversário neste ano (muito mais gente do que eu esperava, obrigada a todos), fora todos os compromissos que não consegui ir, casamentos dos meus primos, cinemas marcados, festas de aniversários, até o meu curso de progressão de carreira… até mesmo online, meu twitter está com teias de aranha e o número de e.mails atrasados… pois é, é verdade, eu estou completamente sumida.

Tem motivo também. Quem conseguiu me encontrar nesses últimos anos sabe o porquê. Para quem não tiver encontrado, o que aconteceu é o seguinte: aquela alergia que eu tenho desde sempre a cigarros de cravo, piorou, e muito.

Quando a Anvisa proibiu os cigarros de cravo, no início de 2012, as indústrias de cigarro responderam colocando a substância à qual sou alérgica, o eugenol (que aumenta a absorção de outras substâncias, por isso torna a nicotina mais viciante, e não é uma coisa que as empresas de tabaco queiram que saia do cigarro) em todos os cigarros. Fora isso, o eugenol, que também responde como agrotóxico M42, passou a ser aprovado para o uso em frutas, verduras e legumes. E se tornou um dos excipientes da fórmula do Round-up. E passou a ser usado pela Unilever como parte da fragrância dos seus produtos. E pelo Glade também. E basicamente, de “algo que me faz evitar baladas e lugares hipongas” o eugenol passou a ser uma substância que está em tudo quanto é lugar. E a minha alergia, que nunca foi fraca (afinal, depois de quatro choques anafiláticos e uma parada cardíaca, não dá para chamar ela de fraca), piorou. Muito.

Cheguei a passar dois meses indo para o hospital dia sim dia não para tomar corticóide na veia quando uma vizinha fumante se mudou para o lado de casa. Precisei vender minha casa antiga, e ir me esconder em Mairiporã, em um terreno sem vizinhos próximos e cercado por mata.

Dito assim parece fácil, mas a casa que tinha no terreno parecia aquela da rua dos Bobos, sabe, sem teto e sem fundação, e antes de nos mudar tivemos, eu e o Rê, que reconstruir a casa inteira. Como toda reforma foi caro (bem mais do que esperávamos) e demorado (mas o erro principal foi nosso: achar que deveríamos ter um projeto de arquiteto antes de construir, o que nos custou quase um ano, entre falar com arquitetos e sermos enrolados, e comigo piorando cada vez mais. Por incrível que pareça, os nossos pedreiros e mestre de obras não atrasaram um único dia e entregaram tudo o que prometeram. Sim, para quem quiser eu passo o contato.).

E enquanto isso, a minha saúde foi piorando cada vez mais. Precisava dos corticóides para conseguir respirar, mas corticóides não são remédios tranquilos, também, e os efeitos do excesso começaram a me destruir pelo outro lado. Desde os efeitos mais patéticos, como ficar com a cara “permanentemente maquiada” (vênulas se espalhando pelo rosto funcionam como se eu tivesse sempre passado rouge), aos menos socialmente aceitáveis (cheguei a 95kg), aos sérios de verdade (minha taxa de glicemia estava a nível de diabetes, meus rins começaram a parar de funcionar, com a função renal piorando e piorando…). Fora os momentos de crise alérgica, em que, mesmo quando consigo ainda respirar, fico completamente tonta (às vezes parece que estou em uma montanha russa mesmo estando com os pés no chão), com enxaqueca e minha memória parece uma peneira.

Mas nem tudo é desgraça. A casa, mesmo tendo demorado, ficou pronta. A estratégia de me mudar para longe da cidade funcionou, e como por motivos de trabalho eu não tinha tido férias em 2013, consegui juntar as férias de 2013 e de 2014 neste ano, para fazer algo que tinha visto em livros sobre alergia estrangeiros: um período de desintoxicação, me mantendo longe de todos os alérgenos. Desapareci ainda mais entre agosto e setembro, pois não podia sair da casa para nada (já que não podia correr o risco de topar com um fumante), e a internet por aqui é meio caprichosa (internet de celular que de vez em quando funciona, mas na maior parte do tempo não).

E FUNCIONOU. Consegui ir até em uma audiência na Paulista (esse grande antro dos fumantes paulistanos) e continuar razoavelmente consciente. Estou há trinta e oito dias sem tomar nenhum corticóide. Parei com todos os corticóides diários, e agora, só em caso de crise, se o broncodilatador não for suficiente. Minha glicemia está normal há três exames (um deles, sem uso de remédio nenhum), meus rins pararam de piorar, e consegui emagrecer ao menos um pouco, para 88kg.

Algumas coisas, devem continuar sempre. A máscara que uso em ambientes públicos, por exemplo. Não importa o quanto ela incomode os outros (que raiva que dá, ser xingada na rua ou maltratada por taxistas porque estou usando uma máscara da qual preciso para me manter viva), é melhor enfrentar esse preconceito besta, que nem vem de tanta gente assim, que continuar piorando de saúde. O purificador de ar, que me manteve viva nos últimos meses na Pompéia, deve continuar sendo meu amigo. Nunca devo ficar bem o suficiente para conseguir ficar ao lado de pessoas fumando sem me preocupar, e sempre vou ter que tomar cuidado com o que como.

Mas a minha vida está começando a poder voltar ao normal. Deixei o meu período de férias contínuo no ano que vem para fazer outro período de desintoxicação, e tentar melhorar mais. E tenho muitas, muitas resoluções de ano novo.

A primeira delas é tentar ficar menos ausente. O que mais me incomodou esse ano foi perder o contato com os amigos, não conseguir ver vocês. Quero tentar mudar isso. Agora que finalmente o pior das dívidas da casa passou, vamos (eu e o Rê) economizar para conseguir tirar o entulho (ah é… a casa está habitável, mas não conseguimos completar tudo) do terreno, e assim conseguirmos receber visitas, mesmo as com filhos pequenos, em segurança (pois no momento minha casa é um perigo público para crianças). E como sei que Mairiporã é longe e nossa casa perdida (nem o Google sabe nosso endereço :P), eu estou com a idéia de tentar marcar um encontro bimestral em algum restaurante em Sampa (nesse período em que não conseguia sair de casa, fui fazendo uma lista de “lugares legais que apareciam no jornal ou coisa assim” que terminou enorme. Claro que depois de tirar os “restaurantes em que não consigo chegar” e os “restaurantes em que não consigo comer” a lista deve ficar bem menor). Pelo que notei nesses meses depois da desintoxicação, para evitar piorar de novo, eu devo me controlar para passar ao menos um dia por semana (ou seja, um dos dias do fim de semana) em casa, sem riscos de crises alérgicas, de preferência um domingo (para chegar no trabalho melhor). Mas me programando para fazer isso, consigo sair algumas vezes por mês sem ficar mal.

A segunda é tentar desaparecer menos do mundo online também. No recesso de ano novo vou enfrentar minha gigantesca lista de e.mails atrasados. Vou tentar olhar o meu twitter ao menos uma vez por semana. Já percebi que mesmo estando melhor, normalmente chego do serviço (e do trânsito da volta, e dos fumantes do trânsito da volta) com dor de cabeça demais para pensar em olhar para o computador. Então vou tentar acordar mais cedo para conseguir abrir o computador por ao menos uma meia hora antes de ir ao serviço, e assim conseguir responder as coisas mais urgentes, ou ao menos lê-las, se bem que o meu ritmo dificilmente vai ficar melhor que respostas uma vez por semana nos fins de semana (o que já seria uma melhora considerável em relação ao ritmo de agora).

A terceira é a promessa tradicional de ano novo de todas as pessoas. Preciso emagrecer bem mais, para sair dos 88 que estou hoje para os 68kg que seriam o meu peso ideal. Não vou tentar nenhuma dieta radical, até porque o peso não é meu maior problema e não quero abusar ainda mais da minha saúde, mas preciso continuar perdendo peso, e tentar evitar ganhar peso de novo (terminei a desintoxicação com 86kg, mas voltando para o ritmo normal perdi o rumo e cheguei a engordar até os 90kg de novo em um mês, então preciso aprender a manter o ritmo em que estou emagrecendo).

A quarta é reavaliar os meus projetos, desistir dos que serão impossíveis (por exemplo, a minha idéia de tentar fazer um webcomic de ficção científica não deve dar em nada. Não consigo desenhar num ritmo que dê para manter o comic), e me organizar para realizar os outros. Voltar a procurar informações sobre antologias, e voltar a escrever para elas. Terminar aquele resumo das regras de Storyteller, para o Rê poder fazer o app para jogarmos online. Fazer aquele blog sobre coisas ecológicas que eu pretendia.  Uns projetos bem mais ambiciosos de meio-estudo meio-trabalho que não vou citar aqui para não zicar. Os projetos de arrumar pequenas e grandes coisas na casa aos pouquinhos. Não sei se vou conseguir fazer tudo nesse ano que vem, mas vou tentar fazer tudo o que conseguir.

E já é promessa o suficiente para mais que um ano.

Espero que os anos de vocês tenham sido melhores (sei que para alguns não foi, mas que melhore), espero que 2015 seja melhor que 2014 para todos.

E segue o conto de natal, é claro!

Na verdade, escrevi esse em 2013. Ele é uma “continuação/prólogo” do conto O Último Vampiro, do natal de 2010, que vai aqui junto para quem não lembra.

Se eu conseguir manter, essa é a primeira postagem do blog que pretendo manter. E o endereço, portanto, já está aqui.

Beijos a todos, e Boas Festas!

3 thoughts on “Boas Festas

  1. Muié, citando um velho filósofo das ruas: É nóis! Não se preocupa não, que mesmo foragida, continua sempre na lembrança e no contato eventual via facetreco. Neste fim de ano matamos a saudade e as lombrigas! Beijos em você e abraço sacana no Renato, aquele gostoso. 😛

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  2. Fala, Mari! Respondendo ao seu email, não caí na neve, fui atropelada. Tíbia fraturada em muitos pedaços, 2 meses sem tocar a perna no chão e fisioterapia até. Assim descobrimos que o problema aqui não é exatamente a neve, mas o gelo. Mas meu ano ainda conta como positivo :D. Se segunda (29) tiver um tempo, nos encontramos no Skype. Consigo ficar online entre as 13h as 19h de vocês (com intervalo para uma sessão de físio+almoço). Grande beijo e 2015 tem que ser melhor para você!!!! Abração para o Renato.

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  3. Oi, Mari, não se preocupe que mesmo sem a internet funcionar, a Vivo pega, sim que de má vontade, mas dá para colocar o papo em dia. 😀

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